terça-feira, 13 de setembro de 2011

CONHEÇA UM GRANDE ESCRITOR AMAZONENSE

TENÓRIO TELLES

Tenório Nunes Telles de Menezes nasceu em Anori (AM) em 1963. Membro da Academia Amazonense de Letras, Professor de Literatura Brasileira, é formado em Letras e em Direito pela Universidade Federal do Amazonas. Coordenador editorial da Editora Valer, em Manaus - Am, a ele se poderia creditar em grande parte a tão intensa publicação literária daquela Editora, ainda tão pouco conhecida fora dos limites do Estado. Tenório é uma figura humana tão extraordinária que, se dedicando incansavelmente à promoção do livro e da leitura, pouco cuida quanto à publicação de seus próprios textos. Em 1988, publicou sua primeira reunião de poemas, Primeiros fragmentos:, e em 2004, a peça A Derrota do Mito. Lançou o CD Vida e luz  em parceria com o poeta Thiago de Mello.

O imenso amor aos livros e uma esperança silenciosa, cultivados pelo editor incansável, talvez venham ajudando Tenório Telles a cumprir humildemente a tarefa do poeta, tal como faz e também entendia Paul Valéry, dando-nos a sensação de união íntima entre a palavra e o espírito.
Quando magnificamente se aventura no texto teatral, Tenório resgata um determinado olhar do “poeta-narrador” que vê com frisson o deserto nas ruínas do poder: a derrota do mito. Uma memória que traz a imagem de civilizações destruídas. Algum sentido à visão do trágico e das lembranças como possível resposta à consciência consolante tão típica de Tenório. Quem sabe, sutil resposta da Musa ao poeta de que a sorte do homem neste vale de lágrimas é precária.
O sofrimento natural que todos padecem se são poetas, e que Tenório transmite em seus versos, se transfigura em um instrumento a serviço da luz, evocando as razões da existência e a inevitabilidade do destino.
Como músico autêntico dos seus peãs, Tenório é toda a música. Anunciando a angústia do aniquilamento que a fumaça do monte não cessa de avisar, parece nos dizer que, neste mundo tolo e soberbo, resta ao coração sentir e pensar. Um pensar que, como para Leopardi, seria aprender a morrer. Ou, também, um exercício de acreditar, olhos postos no mais Alto. Tocados pela fantasia e pelo devaneio na canção da esperança de Tenório Telles, edificante. Flanando libertos!
 DONALDO MELLO, em Brasília, na noite de 27 de março de 2006

  
Canção da esperança

Para Michele

Neste tempo desolado
de sonhos subtraídos
e utopias amortalhadas
- ergo este canto para celebrar
a esperança entressonhada

Neste tempo de partos sem flores
de silêncio e de almas violadas
- ergo este canto para celebrar
a semente que arde em luz.

Neste tempo de vidas fraturadas
de olhos imantados e corações ressecados
- ergo este canto para celebrar
a inocência e o brilho da infância.

Neste tempo de morte e de sombras
de guerras e de campos devastados
 - ergo este canto para celebrar
a vida e os que tombam pela liberdade

Contra toda desesperança
Contra toda cegueira e emudecimento
Contra toda indiferença

- Ergo este canto para celebrar
 a manhã. os rios
as florestas e seus enigmas
- Ergo este canto para celebrar
os pássaros - suas cores e cantos
as flores. o ser humano e a utopia
e também os olhos da amada.

É para vós
este canto de esperança
- que mesmo sendo pranto ­
se eleva como música luminosa.

É para vós
este canto de exaltação
- que floresça em vossos olhos
- que se faça verdade em vossas bocas
e nasça como verdade em nossas vidas. 
  


 
Salexistência

Salário

Sal

salga meus sonhos  
meus olhos

Sal

que fere
minhas chagas
salmouradas
salgada existência

A vida por um salário
salexistência
O sal da terra
salga-nos os ossos.

( De Primeiros fragmentos)



Destino

Para te saudar
a manhã luminosa
derrama sua torrente de cores

Fiapos áureos
são tecidos pelas horas
e o tempo com seu olhar fosforescente
esculpe teu rosto terno

A vida é uma tapeçaria
de acontecimentos
e circunstâncias cotidianas

Como um quadro
que se inscreve na memória
teus dias e destino se desenrolam

Nessa travessia
em que tudo se esvai
só a lembrança que guardo de ti
há de ficar - como a borboleta amarela
que pousava nos arbustos
que margeavam os caminhos da infância

Que possas levantar
as velas do teu barco
e que os ventos protetores
te conduzam para águas calmas
e possas cumprir tua geografia de sonhos

Esperarei o retorno de tuas viagens
as notícias de um tempo
feliz para o homem
os relatos dos teus triunfos
teu canto temperado pelo mar
e as dores purgadas sob o furor dos ventos

Que o teu destino se cumpra
e possas chegar à outra margem
onde encontrarás as miragens que te seduziam

E então saberás que estão em ti
os tesouros
que buscaste

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